Ainda há tempo para evitar os piores impactos da crise climática?
20/11/2025
(Foto: Reprodução) Ainda há tempo para evitar os piores impactos da crise climática?
O mundo está passando por extremos. O planeta está aquecendo mais rápido do que os cientistas do clima esperavam. Essas são algumas notícias que você já leu no g1. A partir dos comentários nessas reportagens, decidimos ouvir quem estuda o tema há décadas para responder à pergunta que mais se repetia entre os leitores: ainda é possível reverter os cenários que podem levar o mundo a viver os piores impactos da crise climática?
O resultado revela um misto de esperança e urgência. O g1 ouviu 33 pesquisadores de referência mundial, ambientalistas e personalidades com voz ativa no debate climático.
A maioria acredita que ainda é possível reverter os piores impactos da crise climática, mas sob uma condição: que o mundo tome medidas imediatas. Entre os entrevistados, apenas uma pessoa disse estar otimista.
Entre aqueles que alertam para a necessidade de que o mundo tome medidas imediatas, estão:
Carlos Nobre (Brasil), principal nome da ciência climática no país;
Alyssa Findlay (Alemanha), editora sênior da revista Nature, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo;
Ed Hawkins (Inglaterra), criador das “listras do clima”, ferramenta visual que mostra o aquecimento da Terra;
Daniel Jacob (EUA), especialista em química atmosférica e professor de Harvard.
O que apontaram os especialistas ouvidos na pesquisa?
🟢 Entre os otimistas os motivos mais citados são:
Que as soluções já existem
Tecnologias para reduzir emissões, restaurar ecossistemas e promover energia limpa estão disponíveis e comprovadas. Eles apontam que isso não está em ação ainda por falta de vontade política.
Que a sociedade está mais consciente
Citaram o avanço de movimentos sociais, da pressão pública e do engajamento da juventude pelo meio ambiente. Nos últimos anos, há maior cobrança por parte de consumidores para que empresas adotem medidas que respeitam a natureza.
Que o setor privado e a economia verde estão reagindo
Empresas começam a ver valor econômico em ações sustentáveis e investir em ações de menor impacto. Para eles, o crescimento da “economia verde” é visto como uma oportunidade real de transformação.
Que a cooperação e a ação coletiva ainda podem virar o jogo
Citaram que há uma janela, apesar de estreita, de oportunidade se houver colaboração entre governos, empresas e sociedade.
O planeta tem capacidade de resposta
Alguns dos especialistas citaram mecanismos naturais de “feedback” climático — o sistema pode se recuperar se as emissões caírem rapidamente.
🔴 Entre os pessimistas (ou céticos quanto ao tempo) os motivos mais citados foram:
Falta de vontade política e retrocessos globais
A crise geopolítica, o aumento de governos negacionistas e o foco em eleições de curto prazo são apontados como o principal entrave. Muitos citaram diretamente os Estados Unidos.
Predomínio de interesses econômicos
A dependência dos combustíveis fósseis continua sendo priorizada e ainda há uma prevalência pelos interesses econômicos, mesmo com com a urgência que o tema pede.
Greenwashing e lentidão nas ações
Especialistas apontam muito discurso e pouca execução. Países desenvolvidos seguem não cumprindo metas nem repassando o financiamento prometido aos mais vulneráveis.
O que dizem os especialistas?
Ao g1, a pesquisadora Roopali Phadke, que vive nos EUA, diz que essa postura compromete o esforço global.
“Moro nos EUA, e nossa retirada da ambição climática está atrasando o planeta”, afirmou.
O cientista britânico Ed Hawkins, conhecido por desenvolver as “espirais do clima” — gráficos que mostram o avanço do aquecimento global —, reforça que as soluções já existem, mas esbarram “na falta de coragem política”.
A sociedade civil precisa atuar ativamente, repensando atitudes e pressionando governos para buscar ações concretas. A velocidade e a escala dessas medidas ainda estão abaixo da urgência exigida pela crise climática.
Me sinto menos otimista porque nos aproximamos dos limites planetários e pontos de não retorno (os exemplos mais visíveis na minha área são o derretimento do gelo marinho, o recuo das banquisas e a acidificação oceânica). Me sinto menos otimista porque vejo inação de governos diante de crises humanitárias, e me pergunto se será diferente quando lidarmos com escassez de recursos em mais países.
Apesar do tom de alerta, as respostas mostram que ainda há esperança. Para Marina Hirota, pesquisadora sobre a Amazônia, ainda existe uma janela de oportunidade.
Temos falhado, mas ainda há uma estreita janela de oportunidade para agir e fazer uma mudança para o futuro do planeta.
Fatou Jeng, jovem ativista climática e ex-assessora do secretário geral da ONU, da Gâmbia, diz que está otimista, mas com uma visão conservadora.
Estou otimista de que enfrentar a crise climática é possível, mas devo dizer que, com as atuais realidades globais, especialmente o comprometimento dos países mais desenvolvidos em mitigar o aquecimento global é de 4 em 10.
Alyssa, vive na Alemanha e é editora da revista Nature, uma das mais importantes publicações de ciência do mundo, e escreve sobre meio ambiente.
Acredito que há países que estão encarando os desafios com seriedade e trabalhando para implementar medidas.
Para o ambientalista Carlos Nobre, a COP30, que será realizada em Belém (PA), será decisiva para definir o esforço coletivo e indicar se ainda haverá tempo.
“A COP30 deve ser a mais importante de todas as COPs e chegar a um acordo sobre emissões líquidas zero até 2040.”
Vista da Terra pela tripulação Apollo 17.
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