Bolsonaro apresentou minuta de golpe a general do Exército, disse Mauro Cid em delação
19/02/2025
(Foto: Reprodução) Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro informou que não participou da reunião entre os dois, mas que general Estevam Theophilo narrou episódio a ele. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, deixando o Supremo após audiência
Fellipe Sampaio/STF/Reuters
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou que o próprio ex-presidente apresentou minuta de golpe, durante uma reunião, ao, na época, comandante de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Theophilo (leia mais abaixo).
A afirmação do militar está em um dos depoimentos que Cid prestou a autoridades no contexto de sua colaboração premiada homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Moraes derruba sigilo de delação de Mauro Cid
Cid informou também que não participou da reunião, realizada em 9 de dezembro de 2022, mas que soube que, no encontro, o então presidente Bolsonaro apresentou o texto que estava sendo trabalhado.
"Indagado se a minuta de decreto reverteria o resultado das eleições presidenciais [Mauro Cid] respondeu que sim", diz um trecho do documento.
O tenente-coronel também foi questionado, durante a delação, qual foi o resultado da reunião — já que havia uma troca de mensagens entre ele e o coronel Corrêa Neto, à época no Comando Militar do Sul, sobre o encontro, quando Neto questionou o andar da reunião e Cid respondeu que ainda estava acontecendo.
"Também indagado como obteve a referida informação [Mauro Cid] respondeu que no final da reunião foi repassado ao colaborador que o general Theófilo disse que se o presidente Jair Bolsonaro assinasse o decreto, as Forças Armadas iriam cumprir; Indagado quem lhe repassou essa informação, [Mauro Cid] respondeu que foi o próprio general Theófilo", menciona outro trecho do documento sobre a colaboração de Cid.
🔎 Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro ao longo de quase todo o mandato. Ele firmou delação premiada com a Polícia Federal para prestar informações em diversos inquéritos, incluindo o da tentativa de golpe de Estado.
🔎 Na terça-feira (18), a Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro e outros 33 suspeitos de terem arquitetado uma tentativa de golpe entre 2021 e janeiro de 2023 para impedir a derrota de Bolsonaro nas urnas e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
🔎 O sigilo da delação de Mauro Cid foi derrubado pelo relator dos inquéritos, Alexandre de Moraes, nesta quarta.
Sigilo derrubado
O ministro derrubou nesta quarta-feira (19) o sigilo do acordo de delação premiada firmado em 2024 pela Polícia Federal com o tenente-coronel.
Na mesma decisão, Moraes abriu prazo de 15 dias para que os 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República nesta terça-feira (18) apresentem suas defesas por escrito.
Com a decisão, o conteúdo dos depoimentos de Mauro Cid deve ser tornado público ainda nesta quarta. A derrubada do sigilo tinha sido adiantada pelo jornalista César Tralli, da TV Globo, no início da manhã.
"Ocorre que, no presente momento processual, uma vez oferecida a denúncia pelo procurador-geral da República, para garantia do contraditório e da ampla defesa [...] não há mais necessidade da manutenção desse sigilo, devendo ser garantido aos denunciados e aos seus advogados total e amplo acesso a todos os termos da colaboração premiada", diz Moraes.
O acordo previa que Cid desse detalhes aos investigadores sobre suspeitas de crimes cometidos por ele e por pessoas em seu entorno ao longo do governo – em investigações como a da tentativa de golpe de Estado, das joias trazidas da Arábia Saudita e da suposta fraude nos cartões de vacinação, por exemplo.
Se as informações prestadas por Cid forem confirmadas pela investigação, ele pode receber benefícios como a redução da pena e o cumprimento de condenações em regime aberto, por exemplo.