Brasil perdeu 30 milhões de hectares por causa de queimadas em 2024; Amazônia é a mais afetada
24/06/2025
(Foto: Reprodução) Ação humana e seca severa nos últimos dois anos contribuiram para o bioma concentrar 52% do desmatamento por fogo no país ano passado. Brigadistas do Ibama tentam controlar fotos de queimada durante incêndio na Amazônia, em Apuí, no estado do Amazonas
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Uma proporção de vegetação equivalente a quase um quarto (24%) de todo o Brasil queimou pelo menos uma vez entre 1985 e 2024. Desse total, 43% da área foi queimada nos últimos 10 anos (entre 2014 e 2023).
Esses dados fazem parte da primeira edição do Relatório Anual do Fogo (RAF) do MapBiomas. As informações foram compiladas a partir do mapeamento de cicatriz de fogo com imagens de satélite e traçam o mais completo retrato da ação do fogo em todo o território brasileiro, além de expor padrões a respeito da ocorrência das queimadas e incêndios.
Somente no ano passado, 30 milhões de hectares foram queimados, uma área 62% maior que a média histórica de 18,5 milhões de hectares devastados por ano. As queimadas se intensificaram de forma considerável no segundo semestre. Entre agosto e outubro, aconteceram 72% de todas as queimadas de 2024 e um terço (33%) somente em setembro.
Os biomas com maior proporção de vegetação nativa afetada pelo fogo entre 1985 e 2024 foram Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal, todos com mais de 80% da extensão afetada. Na Amazônia e Mata Atlântica, 55% do fogo ocorreu em áreas antrópicas (modificadas pelo ser humano).
No caso de Amazônia, 53,2% da área queimada nesses 40 anos foram em pastagens; na Mata Atlântica, 28,9% da extensão queimada eram de pastagem e 11,4% de agricultura.
No caso do Cerrado, ele é o bioma com maior recorrência de fogo: 3,7 milhões de hectares queimaram mais de 16 vezes em 40 anos.
“Essa primeira edição do RAF é uma ferramenta fundamental para apoiar políticas públicas e ações da gestão territorial do fogo. Ao identificar os locais e períodos mais críticos da ocorrência do fogo, o relatório permite apoiar o planejamento de medidas preventivas e direcionar de forma mais eficaz os esforços de combate aos incêndios”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.
Dados queimadas Brasil 2024 MapBiomas
MapBiomas / Arte g1
Estado de São Paulo tem operação contra queimadas
Recorde de queimadas na Amazônia e Mata Atlântica
Em 2024, a Amazônia registrou a maior área queimada de toda a série histórica desde 1985 e foi, de longe, o bioma que mais queimou no país. Foram aproximadamente 15,6 milhões de hectares queimados, um valor 117% superior à sua média histórica. Essa área correspondeu a 52% de toda área nacional afetada pelo fogo em 2024, tornando a Amazônia como o principal epicentro do fogo no Brasil no ano passado.
Além do recorde em extensão, 2024 também marcou uma mudança em termos qualitativos: pela primeira vez na série histórica, 6,7 milhões de hectares de florestas pegaram fogo (equivalente a 43% da área queimada no bioma), superando os 5,2 milhões de hectares de pastagem queimados (33,7%). Historicamente, as pastagens sempre foram mais afetadas pelas queimadas.
Felipe Martenexen, coordenador de mapeamento do bioma Amazônia, atribui essa mudança a uma união da ação humana e da seca severa, um dos efeitos do aquecimento global.
“O fogo não é um elemento natural da dinâmica ecológica das florestas amazônicasia. As áreas queimadas que marcaram o bioma em 2024 são resultado da ação humana, especialmente em um cenário agravado por dois anos consecutivos de seca severa. A combinação entre vegetação altamente inflamável, baixa umidade e o uso do fogo criou as condições perfeitas para a propagação do mesmo em larga escala, levando a um recorde histórico de área queimada na região” .
A Mata Atlântica é um bioma que se junta à Amazônia na estatística de recorde de queimada. Foram 1,2 milhão de hectares afetados pelo fogo no ano passado, número 261% acima da média histórica para o bioma, de 338,4 mil hectares por ano.
🔴Atenção para São Paulo: o estado concentrou 4 dos 10 municípios com maior proporção de área queimada no Brasil, todos próximos a Ribeirão Preto, uma região predominantemente agrícola.
“As áreas naturais na Mata Atlântica são especialmente vulneráveis ao fogo, que não faz parte da dinâmica ecológica desse bioma. Quando ocorrem, os incêndios acabam trazendo grandes impactos aos escassos remanescentes florestais dentro do bioma. São evidentes os danos econômicos e, principalmente, os para a saúde e qualidade de vida da população”, aponta Natalia Crusco, da equipe da Mata Atlântica do MapBiomas.
Amazônia e Cerrado concentram 86% das áreas queimadas
O Cerrado se destaca pela área do bioma que foi queimada. Juntos, ele e a Amazônia, representam 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil entre 1985 e 2024. Foram 89,5 milhões de hectares no Cerrado e 87,5 milhões de hectares na Amazônia. Embora a área queimada nos dois biomas seja semelhante, há uma grande diferença em termos proporcionais, uma vez que a área total da Amazônia é quase o dobro do Cerrado. Por isso, na Amazônia, a área queimada pelo menos uma vez nos últimos 40 anos corresponde a 21% do bioma; no Cerrado, esse percentual é de 45%.
É também na Amazônia e no Cerrado que se encontram os três estados brasileiros líderes em área queimada: Mato Grosso, Pará e Maranhão. Juntos, eles concentram 47% da área queimada ao longo das quatro décadas analisadas. No bioma localizado majoritariamente na porção central do país, 10,6 milhões de hectares queimaram em 2024, equivale a 35% do total devastado no ano passado.
Área queimada Brasil últimos 40 anos
MapBiomas / Arte g1
Caatinga e Pampa têm queimadas abaixo da média em 2024
Na Caatinga, 11,15 milhões de hectares foram queimados entre 1985 e 2024, o equivalente a 13% do bioma. Cerca de 38% da área queimada no bioma foi afetada pelo fogo mais de uma vez ao longo dos últimos 40 anos.
Ao contrário de outras formações vegetais do país, no ano passado, a Caatinga teve uma redução de 16% na área queimada, o que totalizou 404 mil hectares.
O Pampa também ficou abaixo da média de áreas vegetais perdidas com 495 hectares perdidos para o fogo. Proporcionalmente, isso é equivalente a 3% do bioma. A maior parte desses incêndios (95%) ocorreu em áreas naturais, predominando nas formações campestres. A silvicultura foi o tipo de uso com maior extensão de área queimada (19,6 mil hectares).