Como a tarifa de 50% vai mexer nos preços no Brasil? Café, carne e combustível vão ficar mais caros?

  • 11/07/2025
(Foto: Reprodução)
Medida impacta setores como petróleo, aço, carne, café e celulose; economistas apontam para aumento da oferta interna e possível queda nos preços de alguns produtos. Lei da Reciprocidade: entenda o texto citado por Lula para responder tarifaço de Trump A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entra em vigor em 1º de agosto e já gera preocupação em diversos setores da economia. A medida pode afetar tanto grandes exportadores quanto o bolso do consumidor brasileiro. O g1 ouviu economistas e representantes dos setores que mais exportam para os EUA para entender os efeitos da nova tarifa e como ela pode influenciar os preços de itens do dia a dia, como combustíveis, carne e até o tradicional cafezinho. Os EUA são o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. No primeiro semestre de 2024, o Brasil exportou mais de US$ 22 bilhões em produtos para o mercado norte-americano, com destaque para petróleo, ferro, aço, café, carne bovina e celulose. Segundo especialistas, o setor agropecuário pode ser o primeiro a sentir os efeitos da tarifa, embora tenha maior capacidade de adaptação. Parte da produção destinada aos EUA pode permanecer no mercado interno, elevando a oferta e pressionando para baixo os preços de produtos como café, suco de laranja e carne bovina. 🔎 Como são perecíveis ou têm prazos curtos de comercialização, esses produtos são difíceis de armazenar ou redirecionar para outros mercados. Caso as exportações sejam reduzidas ou suspensas, o excedente tende a retornar ao mercado interno, derrubando os preços ao consumidor. “O café e suco de laranja, por exemplo, podem ter uma oferta maior no mercado interno. Esse aumento na disponibilidade pode pressionar os preços para baixo, com risco até de deflação localizada”, avalia o economista André Perfeito. Por outro lado, setores industriais — como os de aço, máquinas, equipamentos e produtos químicos — são mais suscetíveis a esse tipo de barreira comercial, segundo a economista Alessandra Ribeiro. Por se tratarem de produtos de alto valor agregado, fabricados sob demanda e com ciclos de venda mais longos, é difícil redirecioná-los ao mercado interno. “Os produtos mais expostos negativamente são os da siderurgia, aeronaves e componentes, como os jatos da Embraer, além de bens de capital — especialmente máquinas voltadas ao setor de energia”, destaca a economista. Como consequência, pode haver redução no faturamento das empresas e ajustes na produção, o que afetaria o emprego e os investimentos no setor industrial. Tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entra em vigor em 1º de agosto REUTERS “O que vai determinar o impacto é a reação do setor produtivo. Se o setor acreditar que essa tarifa veio para ficar, deverá direcionar a produção ao mercado interno. Caso contrário, pode optar por manter estoques para redirecionamento futuro ou até reduzir a produção”, diz André Perfeito. O economista também alerta que, caso a tarifa seja mantida e provoque impactos significativos nas exportações, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderá ser comprometido. Alessandra Ribeiro, da Tendências, acredita que o impacto sobre o PIB e o emprego será limitado. Mas isso não exclui um abalo na balança comercial brasileira: “Mesmo que parte da produção seja redirecionada a outros mercados, o efeito líquido ainda tende a ser negativo para as exportações”. Na mesma linha, a economista Zeina Latif afirma que o impacto macroeconômico tende a ser “moderado e de pouca relevância no conjunto”. Segundo ela, as exportações para os EUA representam cerca de 2% do PIB, o que limita o potencial de um impacto generalizado. “O Brasil é uma economia muito fechada. As exportações são muito importantes para as contas externas, mas nem tanto assim para movimentar a economia internamente”, afirmou. ➡️ Veja abaixo um panorama dos principais setores afetados: ☕ CAFÉ Exportações para os EUA em 2024: quase US$ 2 bilhões (16,7% do total exportado). Possível impacto: com a perda de competitividade, a oferta de café pode aumentar no Brasil, pressionando os preços para baixo. O consumidor norte-americano deve ser diretamente afetado pelo encarecimento do produto. 🥩 CARNE BOVINA Exportações para os EUA em 2024: US$ 1,6 bilhão, com 532 mil toneladas embarcadas (16,7% do total). Possível impacto: aumento da oferta interna pode reduzir os preços, mas grandes empresas do setor têm operações nos EUA, o que pode suavizar os efeitos. 🍊 SUCO DE LARANJA Exportações para os EUA na safra 2024/25: US$ 1,3 bilhão (41,7% das exportações do setor). Possível impacto: setor não tem margem para absorver o aumento de custo; excedente pode gerar queda nos preços internos. 🛢️ PETRÓLEO Exportações para os EUA em 2024: US$ 5,8 bilhões (13% do total exportado da commodity). Possível impacto: apesar da tarifa, setor possui flexibilidade para redirecionar embarques, o que pode reduzir impactos internos. 🏗️ FERRO, AÇO E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Exportações de semifaturados de ferro ou aço: US$ 2,8 bilhões, com mais de 70% indo para os EUA. Materiais de construção e engenharia: US$ 2,2 bilhões exportados para os EUA (58% do total). Possível impacto: excesso de oferta pode afetar preços internos e pressionar margens da indústria. ✈️ AERONAVES Exportações para os EUA: US$ 2,4 bilhões em 2024 (63% do total exportado no setor). Possível impacto: setor pode sofrer com queda nas encomendas, já que não é possível redirecionar facilmente aviões ao mercado doméstico. Risco de perda de receita e impacto na produção e empregos. 🌳 CELULOSE E MADEIRA Exportações de madeira: US$ 1,6 bilhão, com os EUA comprando mais de 40% do total. Celulose: a Suzano, principal empresa do setor, tem cerca de 15% da receita vinda dos EUA. Possível impacto: curto prazo pode ser desafiador, mas presença global e logística podem ajudar grandes empresas a contornar os efeitos e entrar outros mercados. ⚙️ MÁQUINAS, MOTORES E ELETRÔNICOS Máquinas e motores: US$ 1,3 bilhão exportado para os EUA (mais de 60% do total do setor). Eletrônicos: US$ 1,1 bilhão exportado no 1º semestre de 2024; os EUA são o principal destino. Possível impacto: queda na competitividade e potencial redução de receita para empresas e fabricantes de eletrônicos, segundo avaliação de analistas. O g1 procurou associações e entidades representativas dos principais setores exportadores para entender os possíveis efeitos da nova tarifa em suas cadeias produtivas. Nenhuma delas, no entanto, aceitou conceder entrevista até o momento, alegando que preferem aguardar o andamento das negociações entre os governos do Brasil e dos EUA. E se o Brasil retaliar? A carta de Trump trouxe um recado direto: caso o Brasil responda com aumento de tarifas sobre produtos americanos, os EUA devem reagir com novas elevações. Esse tipo de reação em cadeia cria uma “escada tarifária”, que pode agravar ainda mais a situação para ambos os países. “É preciso cautela com a retaliação, pois ela pode gerar pressão inflacionária, encarecer produtos importados e aumentar as incertezas econômicas. Além disso, há o risco de uma resposta ainda mais severa por parte do governo norte-americano”, alerta Zeina Latif. Para André Perfeito, a forma como o governo brasileiro reagirá será decisiva. “Se for pelo caminho da retaliação, pode ser muito ruim. Muita coisa que a gente importa dos EUA são insumos, não produtos finais. Isso pode afetar produção agrícola e industrial.” Além disso, o aumento das tensões também pode influenciar o câmbio e a política monetária. “Se o dólar subir devido à incerteza, o Banco Central pode ser obrigado a interromper a trajetória de queda dos juros, o que impacta toda a economia”, explica o economista. Todos os economistas ouvidos pelo g1 concordam que a resposta mais viável seria adotar uma estratégia focada no fortalecimento de acordos comerciais com outras regiões, como a União Europeia e a Ásia. “Além de negociar com os Estados Unidos, o Brasil deve reforçar sua agenda de acordos comerciais com outras regiões. Em alguns segmentos, há espaço para uma diversificação mais ágil, como nos casos de suco de laranja e carnes”, destaca Alessandra Ribeiro, da Tendências. “Temos visto diversos países buscando novas parcerias em resposta à postura dos EUA. O Brasil também precisa abrir sua economia, mesmo que gradualmente, e diversificar seus parceiros comerciais, inclusive indo além da China”, conclui Zeina. Infográfico - Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA. Arte/g1 Maior tarifa entre países notificados Na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump afirmou que a medida é uma resposta às tarifas e barreiras comerciais impostas pelo Brasil, que ele classificou como “injustas”. O presidente americano também diz que há um déficit comercial insustentável para os EUA, colocando em risco a economia e a segurança nacional. Mas dados do MDIC indicam que o Brasil registra déficits comerciais consecutivos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos. Nesse período, as exportações dos EUA para o Brasil superaram as importações em US$ 88,61 bilhões — o equivalente a R$ 484 bilhões na cotação atual. A tarifa de 50% é a mais elevada entre as novas taxas anunciadas até o momento pelo presidente dos EUA. Trump sugeriu que a tarifa poderia ser reduzida se o Brasil abrisse seus mercados e eliminasse tarifas e barreiras comerciais. Ele também declarou que empresas brasileiras poderiam escapar da tarifa ao produzir diretamente nos Estados Unidos, prometendo agilizar os trâmites para viabilizar essa alternativa. Na carta, Trump também mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro e classificou como “uma vergonha internacional” o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), usando esse argumento para justificar o aumento da tarifa contra o Brasil. O republicano afirmou ainda, sem apresentar provas, que a decisão foi motivada “em parte pelos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e pela violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”. 'Economicamente não há fundamento para medidas contra o Brasil', diz ex-secretário de comércio

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/07/11/como-a-tarifa-de-50percent-vai-mexer-nos-precos-no-brasil.ghtml


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