Como o homem que plantou uma floresta no bairro pode inspirar você?

  • 21/10/2025
(Foto: Reprodução)
Como o homem que plantou uma floresta no bairro pode inspirar você? Olhando de cima, a diferença salta aos olhos. Onde antes se via uma faixa cinza cortando o tradicional bairro da Penha, na Zona Leste de São Paulo, hoje há um corredor verde. Em duas décadas, a paisagem ao longo do Córrego Tiquatira foi radicalmente transformada: do mato ralo e do lixo acumulado, nasceu uma floresta urbana. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça O Parque Linear Tiquatira, com mais de três quilômetros de extensão, é hoje uma das maiores áreas verdes contínuas em meio ao concreto da capital. A mudança, porém, não foi obra do poder público nem resultado de um grande projeto ambiental. Ela começou com a decisão individual de um morador. “Eu vi essa degradação se acentuando”, lembra o aposentado Hélio da Silva, de 74 anos, morador da região há mais de seis décadas “Num dia, em novembro de 2003, eu comentei com a minha esposa e com meus filhos que iria mudar tudo isso aqui em dez anos.” Hélio da Silva, morador da região há mais de 6 décadas plantou sozinho as árvores do Tiquatira. Fábio Tito/g1 A ideia, conta, foi recebida com espanto. “Eles ficaram preocupados, porque aqui era perigoso, cheio de assaltos. Me desestimularam”, diz. “Mas quando todo mundo me desestimulou, foi aí que decidi: agora é que eu vou pra frente.” Foi o início de um trabalho silencioso que atravessou o tempo e o concreto. 🌱 ENTENDA: A Lei Municipal nº 17.794/2022 permite o plantio de árvores em áreas públicas sem autorização prévia em São Paulo, mas exige comunicação à prefeitura e respeito ao Plano Municipal de Arborização Urbana. Em áreas particulares, o plantio é livre. Aos fins de semana, Hélio saía de casa com adubo, mudas e uma enxada. Plantava uma, duas, dez árvores, voltava dias depois para regar e anotar tudo num fichário. Até hoje, mantém um registro detalhado: local, data e espécie de cada uma das mais de 42 mil árvores plantadas ao longo do córrego. Veja abaixo a comparação das IMAGENS de satélite: Comparação mostra Tiquatira em 2005 e em 2025. Initial plugin text Antes da urbanização, o Tiquatira era um curso d’água sinuoso, mas sem muitas árvores ao redor. “Há 40 anos, o córrego era limpinho e serpenteado”, conta Hélio. “Tinha rã, tinha preá, tinha algumas caças aqui. Depois o homem veio e domou o rio.” O “domar” de que ele fala foi a canalização, o processo que transformou o leito natural em um canal de concreto poluído, como tantos outros córregos paulistanos. Logo, na década de 80, o espaço em volta virou avenida, e o verde desapareceu. Em 2003, Hélio começou, então, a devolver à margem parte do que a cidade havia tomado. Com o tempo, a paisagem mudou: as árvores cresceram, a sombra voltou, e com ela vieram pássaros, insetos e até pequenos mamíferos. “O bonito é ver elas crescerem”, diz, sorrindo, ao caminhar entre as copas que agora se tocam sobre o córrego. “Hoje é um refúgio, um lugar de paz. Antes, era medo e abandono.” a COP 30 e nosso futuro Como funcionam as discussões da COP, a conferência do clima da ONU Um parque feito à mão Nos primeiros anos, Hélio conta que o desafio era diário. As primeiras 200 mudas que plantou foram destruídas. Depois vieram 400, que também foram arrancadas. “Aí eu disse: agora eu vou plantar cinco mil”. E a persistência virou rotina. Aos poucos, a floresta cresceu. Hoje, as margens do Tiquatira abrigam 164 espécies da Mata Atlântica, entre elas ipê, jatobá, araribá, pau-brasil e araucária Cerca de 3 mil são frutíferas, como jabuticaba, goiaba, cereja-do-rio-grande e bacupari. O espaço também se tornou ponto de observação de aves: grupos de birdwatching já registraram ali 69 espécies diferentes, incluindo tucanos, pica-paus, sanhaços, sabiás e bem-te-vis. Segundo Hélio, a biodiversidade é tanta que a diferença de temperatura entre o parque e as ruas próximas chega a cerca de cinco graus. A reportagem visitou o local em um dia de forte calor na capital e sentiu essa diferença na pele: enquanto o asfalto da Avenida Governador Carvalho Pinto refletia o sol escaldante, bastava entrar entre as árvores do Tiquatira para o ar ficar mais fresco e úmido. Ele afirma ainda que, nas chuvas, as árvores ajudam a conter alagamentos, retendo parte da água da enxurrada. Casca deixada por uma cigarra presa ao tronco de uma árvore no Parque Tiquatira. Fábio Tito/g1 Fora isso, com o tempo, o entorno também mudou. A antiga área ociosa e insegura virou ponto de encontro: hoje há famílias fazendo piqueniques diariamente, escolas promovendo atividades ambientais e moradores caminhando entre as árvores plantadas por ele. Na Penha, o trabalho de Hélio virou inspiração, e também um convite à ação coletiva. “Eu acho importante, mas é bom também que outras pessoas façam. Ele não pode ficar sozinho nessa. A gente precisa ajudar, porque o que ele está fazendo é pra todo mundo”, diz Jaciana Ambrósio, 41 anos, que leva o cachorro para passear no parque durante a semana. Em 2023, a Fundação SOS Mata Atlântica informou que o trabalho do Seu Hélio, como o plantador de árvores da Penha é carinhosamente chamado, inspirou a criação de cerca de 300 grupos de plantadores de árvores em diferentes regiões do Brasil — do Norte ao Sul do país. Hoje, além de seguir plantando, ele também participa de palestras em escolas e eventos ambientais, onde fala sobre a importância de cuidar da natureza e envolver as novas gerações. E mesmo aos 74 anos, o ritmo continua. Nos períodos de chuva, Hélio chega a plantar até 60 mudas por dia. A maioria é comprada com recursos próprios em viveiros do interior paulista, onde o preço é bem mais baixo do que na capital. Mais do que uma rotina, o plantio se tornou parte da vida dele — e a meta continua: chegar a 50 mil árvores no Tiquatira. “Plante uma árvore, conviva com ela, converse com ela de vez em quando, e ela vai se tornar sua melhor amiga e confidente. Plante uma árvore. Isso é amor, celebra Hélio. Córrego Tiquatira, que banha o parque de mesmo nome na zona leste de São Paulo. Fábio Tito/g1 LEIA TAMBÉM: 'Empresas como a Petrobras têm que deixar de ser apenas de exploração de petróleo', diz Marina Silva Comitiva da ONU inspeciona locais da COP 30 e aprova planos de segurança, mobilidade e saúde 'O que aprendi ao viver um ano sozinho com um gato em uma ilha remota' Qual é o papel da China na crise climática?

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/10/21/como-o-homem-que-plantou-uma-floresta-no-bairro-pode-inspirar-voce.ghtml


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