Crianças baleadas na Gardênia saíram da Vila Kennedy para ter fim de semana tranquilo: 'Fugiram da guerra lá e encontraram aqui', diz tia
07/12/2024
Feridos são uma mulher e duas crianças — uma de 5 e outra de 10 anos — que brincavam na rua. Em 2024, quase duas crianças foram baleadas por mês no RJ: são 23 até agora. Duas crianças e uma mulher foram baleadas na Zona Oeste do Rio
As duas crianças baleadas na noite de sexta-feira (6) na Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, estavam indo para a casa de uma tia para ter um fim de semana de tranquilidade.
Os irmãos de 5 e 10 anos vivem na Vila Kennedy, e a tia diz que foi buscá-los porque a comunidade tem tido confrontos de criminosos.
“Tava calmo, quando fomos passando a calçada, daqui a pouco a gente vira as costas, eles começam um monte de tiro, que eu não sei de onde veio tanto tiro, parecia uma guerra”, disse Vânia Pereira.
Vânia estava com a mãe e as crianças.
O tiroteio que acabou ferindo as crianças foi justamente uma disputa entre milicianos e traficantes. Elas foram baleadas na comunidade onde mora a tia, na Zona Oeste.
"Ai eu falei: 'mãe vamos lá, vamos andar um pouquinho. Vamos passear'. E ai aconteceu isso. Eu sei também que não tá legal. Mas pelo menos lá é mais tranquilo. Lá tem o condomínio, a gente fica la dentro (...) Eu chego e encontro a guerra aqui. Fugiu da guerra lá e encontrou ela aqui", completou a tia das crianças, ainda abalada pela violência.
Segundo testemunhas, os tiros foram disparados por dois homens em uma moto. Além dos irmãos, que estão internados no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, uma mulher foi baleada – ela já recebeu alta.
A Polícia Militar informou que não havia operação na região no momento do tiroteio. O caso é investigado pela delegacia da Taquara, que tenta identificar os autores dos disparos.
"Isso mostra que os homens estão se matando e estão levando nossas crianças. É um medo né. O medo tomou conta, a violência tomou conta. Acabou, a terra acabou. A gente não pode mais ir vir, acabou a liberdade", analisou Vânia.
Vânia Pereira, tia das crianças baleadas na Gardênia Azul
Reprodução/TV Globo
23 crianças baleadas no ano
Com esse ataque, chega a 23 o número de crianças baleadas no Rio em 2024, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado.
A direção da unidade de saúde disse que Antônia foi atendida e liberada. Já os menores, os irmãos Caíque e Larissa, permanecem internados e têm quadro estável.
Caíque foi atingido na coxa e passou por cirurgia. Já Larissa foi ferida no ombro e está fora de perigo.
O tiroteio aconteceu na Rua Otávio Malta, conhecida como a rua do valão. Segundo a tia das crianças, a família tinha descido de um ônibus e andava pela calçada quando foi surpreendida pelos disparos.
Ela contou que tinha ido buscar os sobrinhos na Vila Kennedy, em Bangu. A ideia era levar as crianças para a casa dela para que eles pudessem passar um fim de semana tranquilo, já que ela vive em um condomínio fechado.
“Eu falei: ‘mãe vamos lá, vamos andar um pouquinho vamos passear’. E aí aconteceu isso”, disse a tia.
A Polícia Militar disse que não havia operação policial na região. O caso é investigado pela delegacia da Taquara, que tenta identificar os autores.
Disputa por território
A região da Gardênia Azul tem sido alvo de trocas de tiros entre criminosos que disputam espaço nas comunidades da Zona Oeste.
A guerra entre traficantes e milicianos tem transformado o cotidiano dos moradores em um cenário de medo e violência. Há relatos de tiroteios frequentes, toque de recolher e intimidações.
A disputa pelo controle territorial envolve o domínio do tráfico de drogas e a cobrança de taxas ilegais, como o gatonet e serviços básicos clandestinos, ampliando a sensação de insegurança na região.