De vítima de bullying a mestre: capoeirista relata trajetória de 38 anos e rebate preconceito com o esporte

  • 03/08/2025
(Foto: Reprodução)
Capoeirista de São Roque relembra trajetória de 38 anos A capoeira surgiu como um símbolo de resistência e disfarce dos africanos escravizados no Brasil, sendo uma arte que se assemelha a uma dança, mas que, na verdade, é um treino de luta corporal. Com o passar do tempo, também começou a ser praticada no mundo inteiro como esporte, arte e expressão cultural. Neste domingo (3), Dia do Capoeirista, o g1 conversou com Edson Alves dos Santos, de 48 anos, que mora em São Roque (SP) e pratica capoeira desde os nove anos. Mestre Belo, como costuma ser conhecido, conta que a motivação para começar a praticar o esporte veio das agressões e do bullying que sofria dos colegas de escola. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp "Comecei a treinar capoeira para me defender, porque foi a única arte pela qual me interessei e, naquele momento, era a única que eu podia fazer, porque era gratuita, através de um projeto social. Sempre achei a capoeira linda, com uma musicalidade muito legal", relembra. Nascido e criado em Minas Gerais, Mestre Belo se mudou para São Roque aos 11 anos. Já na cidade, conheceu diversos mestres e passou a treinar com ainda mais frequência, chegando a caminhar de três a quatro quilômetros por dia para praticar a capoeira. "Comecei a treinar sem parar, com o objetivo de aprender e me defender. No entanto, com o tempo, fui percebendo que a capoeira começou a me transformar. Ela ensina disciplina. Porque, ao mesmo tempo em que é uma luta, uma arte marcial, também forma o cidadão, a pessoa. Ensina que não é necessário brigar para provar algo", revela. Mestre Belo, de São Roque (SP), começou a praticar capoeira desde os nove anos de idade Arquivo Pessoal Durante a trajetória, Edson precisou enfrentar inúmeros desafios e preconceitos. Segundo ele, muitas pessoas ainda enxergam o capoeirista como alguém que “não tem o que fazer”. Além disso, também existe o preconceito religioso. "No passado, o capoeirista era visto como rebelde e violento, alguém sem emprego. Havia muita rivalidade entre academias e grupos, um queria ser melhor que o outro. Felizmente, essa rivalidade diminuiu e hoje há mais união no meio", afirma. Para o mestre, o esporte representa arte e cultura, sendo uma forma de libertação para os escravos. Ele reforça que a capoeira é importante para que o passado não seja esquecido, já que foi usada pelos negros para se defenderem dos opressores durante o período de escravidão. "A capoeira não traz apenas a parte cultural: ela promove igualdade social. Por meio dela, é possível salvar muitas crianças e adolescentes da criminalidade com projetos sociais. É uma arte que encanta pela musicalidade, pela dança corporal e por outros aspectos. Para mim, a capoeira representa liberdade de expressão e amor ao próximo. Ela é esporte, arte, cultura e filosofia de vida, tudo junto", diz. Mestre Belo, de São Roque (SP), começou a fazer capoeira para se defender do bullyng Arquivo Pessoal 🤸🏽‍♂️ Centro Cultural Yê O sonho de fundar um projeto social com aulas gratuitas de capoeira acompanha Edson desde a adolescência, de acordo com ele. Apesar da experiência em iniciativas semelhantes, foi apenas ao se tornar contramestre, há três anos, que ele reuniu coragem para criar o próprio projeto: o Centro Cultural Yê. "Quando me formei estagiário no mundo da capoeira, decidi que queria me tornar professor, mestre, para ensinar essa arte a outras pessoas. Sempre tive esse objetivo. Já trabalho com projeto social há cerca de 18 anos. Além disso, dou aulas particulares, em escolas e clubes", diz. A iniciativa é uma associação sem fins lucrativos que oferece aulas de capoeira para todas as idades. Segundo Edson, o Centro Cultural se mantém por meio de rifas e sorteios, além do patrocínio e parceria dos pais dos alunos. "Espero pelo dia em que os governantes se dediquem mais aos projetos, liberem verbas e facilitem o acesso dos capoeiristas a esses recursos. Acredito que a capoeira deveria fazer parte do currículo escolar, por ser parte fundamental da nossa cultura", diz. De acordo com o mestre, o projeto tem como objetivo promover o bem-estar na comunidade, principalmente com crianças em situação de vulnerabilidade. Atualmente, a associação atende oito crianças autistas, entre 150 alunos. Mestre Belo, de São Roque (SP), fundou o Centro Cultural Yê em 2023 Denise Santos "Costumo dizer que não sou só capoeirista: sou um educador. Até hoje, continuo aprendendo todos os dias, fazendo cursos e buscando me aperfeiçoar como mestre e como ser humano. Minha trajetória passou por altos e baixos. A capoeira me trouxe felicidades, mas também muita tristeza. Há a decepção de você se dedicar a um aluno e ele sair sem dar satisfação. Eu costumo dizer que o mestre é formado pela sociedade, que está sempre observando seu trabalho", pontua. Além de mestre de capoeira, ele conta que também é eletricista. De acordo com Edson, por conta do trabalho, não consegue ter muito tempo para se dedicar ao projeto, e reforça que ensinar capoeira para os jovens não é uma tarefa fácil. "Gostaria de expandir ainda mais o projeto, mas não tenho professores suficientes. Preciso trabalhar para sustentar minha vida, já que a capoeira sozinha não proporciona isso. Além disso, com a tecnologia, o interesse entre os jovens não é o mesmo de antigamente. É preciso cativá-los e reinventar as aulas, tornando-as mais interativas", complementa. 💭 Início de uma trajetória Jeferson Nascimento Eloi, de 22 anos, mora em São Roque (SP) e participa das aulas do Centro Cultural Yê Arquivo Pessoal Enquanto Mestre Belo já trilhou uma longa jornada de 38 anos na capoeira, Jeferson Nascimento Eloi, de apenas 22 anos, está iniciando sua própria trilha. Assim como Edson, o jovem começou no esporte aos nove anos de idade, também em São Roque e, atualmente, tem aulas com Mestre Belo. "Naquele tempo, a única modalidade esportiva que eu podia praticar era a capoeira. Sendo um menino pobre, sem condições de pagar uma academia, comecei a treinar em um projeto social do Grupo Berimbau de Ouro", relembra. Com o passar do tempo, Jeferson mudou para o grupo Ginga Abolição, do Mestre Corisco. De acordo com ele, foi nesse período que aprendeu mais e se apaixonou fortemente pela capoeira. "Infelizmente, algum tempo depois, o projeto acabou. Determinado a continuar, eu andava quilômetros para treinar no bairro Ponta Porã, em Mairinque, com o Mestre Corisco", diz. Após alguns acontecimentos, Jeferson saiu do grupo e ficou um ano afastado da capoeira. No entanto, logo depois, recebeu um convite de Mestre Belo para participar da associação que ele havia fundado: o Centro Cultural Yê. Alguns anos depois, começou a dar aulas. "No início, tínhamos apenas uma academia. Com o tempo, assumi um projeto, assim como outros professores também assumiram os seus. O que me motiva todos os dias a continuar dando aulas e praticando a capoeira é o fato de que ela mudou a minha vida desde o primeiro dia em que comecei a treinar. Hoje, dou aulas regulares para meus alunos e pretendo continuar enquanto Deus me permitir." "O ano de 2025 será muito importante para mim: me tornarei professor de capoeira. Sei que a responsabilidade e o trabalho aumentam, mas encaro isso como parte da minha missão. Esse é um pequeno resumo da minha trajetória na capoeira, uma jornada de aprendizado, dedicação e amor por essa arte que me transformou", complementa. Para começar as aulas no Centro Cultural Yê, basta entrar em contato pelo número (11) 91677-2812. Atualmente, as atividades são realizadas na Rua São Sebastião, número 380, mas o projeto ainda não conta com sede própria. Jeferson Nascimento Eloi, de 22 anos, está iniciando sua trajetória na capoeira e dá aulas no Cento Cultural Yê Arquivo Pessoal *Colaborou sob supervisão de Júlia Martins Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2025/08/03/de-vitima-de-bullying-a-mestre-capoeirista-relata-trajetoria-de-38-anos-e-rebate-preconceito-com-o-esporte.ghtml


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