Desvios, emendas, fraudes: o que se sabe sobre a investigação da PF contra o deputado Júnior Mano, do Ceará

  • 09/07/2025
(Foto: Reprodução)
Mandados foram cumpridos no gabinete do parlamentar, em Brasília, e em cidades cearenses. Grupo é suspeito de fraudes em licitações e desvio de emendas parlamentares. Político nega envolvimento. Deputado Júnior Mano e outras 5 pessoas são alvos da PF por fraudes em licitações A Polícia Federal realizou nesta terça-feira (8) a Operação Underhand, que apura desvio de verbas públicas por meio de emendas parlamentares e fraudes em licitações envolvendo prefeituras do Ceará. O principal alvo é o deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), que teve o gabinete em Brasília vasculhado por agentes. A operação é parte de uma investigação que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a PF, um grupo ligado ao parlamentar cobrava 12% de “pedágio” das prefeituras sobre o valor das emendas para liberar os recursos e direcionar as contratações. Parte dos recursos públicos desviados teriam financiado campanhas eleitorais nas eleições municipais do ano passado. Foram cumpridos 15 mandados nas cidades de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio, além de Brasília. Novas Russas é administrada pela esposa de Júnior Mano, Giordanna Mano (PRD), e foi município que mais recebeu emendas do parlamentar. A PF não detalhou os alvos nem os recursos sob investigação na cidade. Em nota, o deputado nega as acusações e diz que não tem qualquer participação em processos licitatórios. Ele afirmou ter "plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá". No relatório, a PF citou os nomes dos deputados federais José Guimarães (PT-CE), Yuri do Paredão (Avante-CE) e do ex-presidente do Senado e deputado licenciado Eunício Oliveira (MDB-CE) em um relatório. Os três aparecem em trechos do inquérito enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas não são alvos da operação desta terça-feira (8) nem são investigados. 🚨 Entenda a investigação e como foi a operação da PF Por que o deputado Júnior Mano (PSB-CE) é alvo de uma operação da Polícia Federal? Como funcionava o esquema criminoso? Como foi a operação da Polícia Federal? Que crimes são investigados na Operação Underhand? O que diz o deputado Júnior Mano sobre as acusações? Quem é o deputado federal Júnior Mano? Qual a relação da cidade de Nova Russas com a investigação? Que cidades receberam emendas do deputado? Quais dessas cidades foram alvo de mandados de busca? Júnior Mano e sua esposa já estiveram envolvidos em outras polêmicas? Outros deputados citados ao longo da investigação Deputado Júnior Mano em comissão da Câmara, em 12/04/2023 Pablo Valadares / Câmara dos Deputados Por que o deputado Júnior Mano (PSB-CE) é alvo de uma operação da Polícia Federal? O parlamentar é investigado por suposto envolvimento em esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos públicos por meio de emendas parlamentares e fraudes em licitações em cidades do Ceará. Segundo a PF, um grupo ligado a Júnior Mano cobrava 12% de “pedágio” das prefeituras sobre o valor das emendas para liberar os valores e direcionar as contratações. Nesta terça (8), o gabinete do deputado, em Brasília, foi alvo de buscas. A PF também cumpriu mandados em Nova Russas, cidade natal do deputado atualmente governada por sua esposa. Não há detalhes sobre os alvos nem se a prefeita também é investigada. Como funcionava o esquema criminoso, segundo a PF? O núcleo investigado articulava o envio de verbas públicas de emendas parlamentares para determinados municípios no Ceará. Em troca, parte desses recursos seria desviada para pagamentos ilegais. A PF informou ao STF que uma ex-prefeita relatou em depoimento ter sido procurada pelo grupo do deputado com uma proposta "explícita de repasse de emenda parlamentar" condicionada a uma devolução de 15% do valor. A organização criminosa também é suspeita de influenciar procedimentos licitatórios por meio de empresas vinculadas ao grupo. Os valores teriam sido usados para financiar campanhas eleitorais nas eleições municipais do ano passado. Como foi a operação da Polícia Federal? A operação foi batizada de Underhand (termo em inglês associado a ações ilegais). A PF cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao parlamentar em Nova Russas, Fortaleza, Eusébio, Canindé e Baixio, no Ceará, além de um mandado em Brasília. As buscas incluíram o gabinete dele na Câmara. O Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação, também determinou o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas investigadas e a quebra de sigilo de celulares apreendidos. Que crimes são investigados na Operação Underhand? As condutas investigadas envolvem os crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral. O que diz o deputado Júnior Mano sobre as acusações? Em nota, o deputado afirmou que "não tem qualquer participação" no esquema criminoso. Ele declarou que, como parlamentar, não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, nem participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos. Ele expressou "plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá” e classificou as acusações como tentativas de interferência política nas eleições de 2026. Quem é o deputado federal Júnior Mano? Antônio Luiz Rodrigues Mano Júnior, 40 anos, é deputado federal pelo Ceará. O político iniciou sua trajetória em 2016 como vice-prefeito de Nova Russas, sua cidade natal, a 300 km de Fortaleza. Em 2018, foi eleito deputado federal e, em 2022, foi reeleito com 216.531 votos, tornando-se o segundo deputado mais votado do Estado. Atualmente, na Câmara, é membro da Comissão de Saúde e da Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional. A PF não informou se os valores identificados pelo g1 têm relação direta com os recursos investigados. Qual a relação da cidade de Nova Russas com a investigação? Nova Russas, atualmente governada por Giordanna Mano, esposa de Mano Júnior, foi o município que mais recebeu recursos por meio de emendas parlamentares destinadas por ele. Desde 2021, Nova Russas foi beneficiada por um total de R$ 4,4 milhões em emendas de Júnior Mano, o maior volume entre todas as cidades por ele beneficiadas. Desse valor, R$ 3,05 milhões foram transferências especiais e R$ 1,35 milhão teve finalidade definida para saúde e assistência social. O valor per capita para Nova Russas (população estimada em 32.014 habitantes) é de R$ 137,44 por morador, o terceiro maior repasse per capita entre todos os municípios que receberam recursos do deputado. A Polícia Federal realizou buscas na cidade, mas não informou se a prefeita também é investigada. O g1 também questionou a prefeitura sobre a destinação dos recursos recebidos, mas não obteve resposta. Como funcionava o esquema de desvio de emendas, segundo a PF Arte/ g1 Que cidades receberam emendas do deputado? Em 2024, o parlamentar foi responsável por mais de R$ 24 milhões de emendas pagas a municípios do Ceará. Levantamento feito pelo g1 com dados do Portal da Transparência do Governo Federal mostra que Nova Russas, cidade comandada pela esposa de Mano Júnior, recebeu, desde 2021, um total de R$ 4,4 milhões em emendas destinadas por ele — o maior volume entre todas as cidades beneficiadas pelo deputado. Distribuição das emendas pagas por Júnior Mano Quais dessas cidades foram alvo de mandados de busca? Nesta terça (8), buscas foram feitas em Nova Russas, mas a PF não deu detalhes de quem foi alvo das ações. Também foram realizadas buscas em outros quatro municípios: Eusébio, Fortaleza, Canindé e Baixio. Não está claro se os alvos eram vinculados às prefeituras dessas cidades ou particulares. A PF também não informou se os valores de emendas identificados pelo g1 têm relação direta com os recursos investigados. Procurada, Nova Russas não se pronunciou. Eusébio informou que os mandados foram cumpridos em imóveis particulares. Canindé afirmou que nenhum órgão da administração municipal foi alvo da PF. Fortaleza não respondeu à reportagem. E Baixio disse que não houve apreensões. Júnior Mano e sua esposa já estiveram envolvidos em outras polêmicas? Sim, Júnior Mano coleciona polêmicas. Em 2024, ele foi expulso do Partido Liberal (PL) após participar da campanha de Evandro Leitão (PT) à Prefeitura de Fortaleza, contrariando a orientação de seu partido e um pedido do ex-presidente Bolsonaro. Ele ajudou a organizar um ato de apoio a Leitão, reunindo 41 prefeitos cearenses. Além disso, em 2022, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) cassou o diploma de sua esposa, Giordanna Silva Braga Mano (prefeita de Nova Russas), e do vice José Anderson por abuso de poder político e captação ilícita de votos. A sanção também incluía a inelegibilidade para ambos por um período de 8 anos. No entanto, eles recorreram da decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e obtiveram uma decisão favorável em 2023, o que lhes permitiu manter seus direitos políticos. Outros deputados citados ao longo da investigação A Polícia Federal citou os nomes dos deputados federais José Guimarães (PT-CE), Yuri do Paredão (Avante-CE) e do deputado licenciado Eunício Oliveira (MDB-CE) em relatório da Operação Underhand, que apura desvios de verbas públicas por meio de emendas parlamentares. Embora mencionados, os três não são alvos da operação deflagrada nesta terça-feira (8) nem estão formalmente investigados no momento. Segundo a PF, os nomes de Guimarães e Eunício surgiram de maneira indireta no inquérito, o que exige apuração mais aprofundada. Já no caso de Yuri do Paredão, foi identificada uma conversa direta com um dos investigados. Contudo, os investigadores afirmam que o conteúdo do diálogo, por si só, não configura indício de crime. O caso que envolve Guimarães ganhou destaque após depoimento da ex-prefeita de Canindé (CE). Ela afirmou à PF que o atual vice-prefeito, Ilomar Vasconcelos, teria pedido 10% de retorno sobre emendas enviadas por Guimarães à cidade, quando ambos estavam na mesma gestão. A ex-prefeita disse ter recusado o pedido, o que teria gerado um rompimento político entre eles. Com base nesse depoimento, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a abertura de um novo inquérito para investigar possível uso irregular de emendas parlamentares. O ministro considerou pertinente investigar a eventual participação de deputados federais na destinação e uso desses recursos. Em resposta, José Guimarães declarou que não é investigado e afirmou não ter destinado emendas a Canindé nos anos de 2024 e 2025. Ele disse que qualquer consulta ao sistema Siafi confirmaria essa informação e negou ter envolvimento em atos ilícitos relacionados às emendas. A assessoria de Eunício Oliveira afirmou que ele destina emendas a dezenas de municípios cearenses de forma transparente e dentro da legalidade. Segundo a nota, o deputado licenciado não foi notificado de nenhuma investigação a seu respeito. A equipe do deputado Yuri do Paredão ressaltou que ele atua com seriedade e transparência, reforçando que todos os recursos indicados estão disponíveis no Portal da Transparência. Também destacou que ele foi eleito sem apoio de prefeitos em exercício e busca contribuir com o desenvolvimento do Ceará. Operação contra desvios de emendas cumpre 15 mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (8) Arte/g1

FONTE: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/07/09/desvios-emendas-fraudes-o-que-se-sabe-sobre-a-investigacao-da-pf-contra-o-deputado-junior-mano-do-ceara.ghtml


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