Em caso raro, irmãos recebem rins de uma mesma doadora, em Goiás
21/10/2025
(Foto: Reprodução) Em caso raro, irmãos recebem rins de uma mesma doadora, em Goiás
Os irmãos Aldemar Cavalcante Barros, de 59 anos, e Divino Cavalcante Barros, de 57 anos, receberam transplante de rim da mesma doadora, no Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG), em Goiânia. Em entrevista ao g1, o urologista e cirurgião responsável pelo procedimento, Rodrigo Rosa de Lima, informou que o caso é considerado raro.
“Em 13 anos trabalhando com transplante, eu nunca tinha visto uma situação parecida. Acredito que seja a primeira vez que algo assim acontece em Goiás”, afirmou.
Policiais militares da reserva, Aldemar e Divino fazem parte de uma família de sete irmãos de Porangatu, na região norte do estado. Eles estavam na lista de espera para receber o órgão e receberam a notícia que mudaria as suas vidas por ligação no dia anterior.
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De acordo com o hospital, o mais velho, Aldemar, perdeu as funções renais devido a complicações de um quadro de diabetes. O ex-militar aguardava o transplante há quatro anos, após iniciar a diálise, um tratamento médico que substitui a função dos rins. O mais novo, Divino, que também foi diagnosticado com diabetes, convivia com a perda das funções renais há um ano.
Os transplantes foram realizados na sexta-feira (17). “O primeiro começou por volta das 17h30 e terminou às 19h30. O segundo teve início às 21h e terminou às 23h”, contou o cirurgião. Os pacientes seguem internados, com boa evolução.
“Nas primeiras 48 a 72 horas, eles ficam na UTI para monitoramento da pressão arterial e de possíveis sangramentos, mas estão se recuperando bem”, relatou o médico.
Divino e Adelmar Barros receberam rins da mesma doadora, em Goiás
Fábio Lima/O Popular
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Lista de espera
Irmãos antes do procedimento cirúrgico, em Goiás
Alex Maia/HGG
Aldemar estava em Goiânia para fazer um check-up do coração quando foi informado de que o dia tão esperado havia chegado: ele receberia um rim após anos de espera.
O médico explicou que um dos pacientes ocupava a terceira posição na lista de espera, enquanto o outro fazia o tratamento há um ano e estava em quinto. “Quando os órgãos chegaram, os dois primeiros e o quarto da lista não estavam aptos a realizar o transplante por questões clínicas. O órgão foi oferecido ao quinto da lista, que, por coincidência, era irmão do primeiro paciente”, detalhou.
O hospital pontuou que a posição na lista de espera para doação de órgãos depende de fatores como compatibilidade, idade, doenças associadas e grau de urgência, além da avaliação da equipe cirúrgica.
Os órgãos foram captados em outro estado, onde não há a realização de transplantes. De acordo com o cirurgião, “quando ocorre a captação, os órgãos são oferecidos à Central Nacional de Transplantes, que faz a distribuição conforme a compatibilidade”.
Mudança de vida
O urologista também destacou a importância da doação de órgãos e o impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes transplantados. “O transplante é uma terapia renal substitutiva, assim como a hemodiálise, mas com grandes benefícios. A pessoa deixa de precisar ir à clínica três ou quatro vezes por semana e volta a ter uma vida muito próxima do normal”, explicou.
Segundo ele, o transplante exige cuidados contínuos e o uso de medicamentos imunossupressores. “O paciente troca as sessões de hemodiálise pela responsabilidade de cuidar do rim. Ele passa a tomar de 20 a 25 comprimidos por dia e precisa de acompanhamento constante do nefrologista”, afirmou.
Realização de transplantes em Goiás
Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG) realiza mais de 180 transplantes de órgãos em 2024
Divulgação/HGG
Somente em 2025, o HGG realizou 127 transplantes renais. No total, a unidade já foi responsável por mais de 1,2 mil transplantes e é considerada o maior transplantador do Centro-Oeste.
Conforme dados da Central Estadual de Transplantes, mais de 2,4 mil pessoas aguardam na fila para realizar transplantes em Goiás. Desse número, 686 são de casos renais, como os irmãos.
O cirurgião Rodrigo Rosa de Lima reforçou a necessidade de conscientização sobre a doação. “Um único doador pode ajudar até nove pessoas. Mas, no Brasil, a doação só é autorizada se a família concordar após a morte encefálica, mesmo que o desejo tenha sido manifestado em vida”, lembrou.
De acordo com o profissional, atualmente, cerca de 40 mil pessoas fazem hemodiálise no país, mas apenas 7 mil transplantes de rim são realizados por ano. “Temos capacidade para aumentar esse número. Por isso, é fundamental conversar sobre o tema com a família e amigos, para que a vontade de ser doador seja respeitada”, concluiu o nefrologista.
O médico ressaltou que ainda há muitos mitos que dificultam o processo. “Há quem acredite que o corpo fica deformado, que não será possível fazer o velório com caixão aberto ou que é preciso cremá-lo, o que não é verdade. É preciso desmistificar essas questões”, finalizou.
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