Em delação premiada, Vinícius Gritzbach entrega nome de pessoas ligadas ao PCC e acusa policiais de corrupção; veja trechos
Durante delação, Vinícius Gritzbach afirmou que policiais civis teriam tomado sítio avaliado em R$1,5 milhão. Exclusivo: o Fantástico teve acesso a parte da delação premiada do empresário executado no aeroporto de Guarulhos
O Fantástico teve acesso, com exclusividade, a uma parte da delação premiada que Vinícius Gritzbach fez ao Ministério Público. Ele entregou nomes de pessoas ligadas ao PCC e fez acusações de corrupção contra policiais.
A reunião aconteceu em julho deste ano. “Nós estamos aqui falando nos autos da sua colaboração premiada, anexo referente à corrupção de agentes públicos, especialmente policiais civis”.
Vinícius Gritzbach estava ali para falar de corrupção policial. Ele era acusado de mandar matar um dos chefes do PCC - Anselmo Cara Preta, em 2021. Vinícius teria dado um desfalque de R$300 milhões no criminoso, em uma negociação de criptomoedas.
Os responsáveis pela investigação do assassinato eram do DHPP, Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa. Segundo Vinicius, policiais desta divisão estavam extorquindo dinheiro dele.
Promotor – “O senhor recebeu algum tipo de pedido, de propina por parte de alguém naquela investigação do homicídio?”
Vinicius - O advogado foi indicado pelo próprio delegado que...
Promotor - Vamos só falar os nomes, por favor.
Vinicius - Ivelson Salotto. Foi indicado pelo delegado Fábio Baena.
O então advogado de Vinicius era Ivelson Salotto. O delator conta que o delegado Fabio Baena e outro policial do DHPP teriam feito ao advogado um pedido milionário de propina.
Vinicius - E alguns dias depois ele falou que o Eduardo e o Baena pediram uma quantia de 30, 40 milhões de reais, que eu tinha um pendrive, que eu não tinha esse pendrive.
Promotor - Esse Eduardo, nome por favor?
Vinicius - Eduardo Monteiro. Chefe dos investigadores do Baena.
Promotor - Chefe dos investigadores do Baena.
Promotor - Em relação a esse pedido, foi um pedido feito de propina ao doutor Ivelson Salotto pelo próprio doutor Fábio Baena presencialmente.
Vinícius diz também que policiais tomaram um sítio que ele tinha na região metropolitana de São Paulo.
Vinicius - Na época eu paguei, acredito, um R$1,5 milhão.
Promotor - Como que esse sitio foi parar na mão da polícia em termos de corrupção policial?
Vinicius - Tem o próprio chefe dos investigadores no áudio que eu estou fornecendo falando que o sítio vai ser comercializado, pra eu me antecipar, o Eduardo falando.
Segundo o delator, outros dois policiais estavam envolvidos.
Promotor - Quem é Flavinho que tomou o sítio?
Vinicius - É o parceiro do Rogerinho.
Promotor - Tá, Rogerinho e Flavinho eram policiais, o senhor nem tem o nome inteiro deles?
Vinicius - Rogério Felipe.
O delator diz que os dois policiais iriam transferir o sítio para o nome de um laranja.
Promotor - Você sabe o nome dele?
Vinicius - Não, mas eu posso levantar
Promotor - Quem contou essa história para o senhor?
Vinicius - O próprio Eduardo Monteiro, chefe dos investigadores.
Promotor - Esse sítio hoje está formalmente na mão dele, na mão dessa pessoa?
Vinicius - Sim.
Os policiais descobriram o contrato do sítio durante uma operação na casa de Vinícius Gritzbach. Foram apreendidos documentos, dinheiro e uma coleção de relógios.
Vinícius – Foram apreendidos 14 relógios.
Promotor - Esses relógios foram apreendidos 14, foram devolvidos para o senhor 10?
Vinícius – Isso.
Promotor - 4 ficaram com ele? esses 4, qual o valor desses relógios?
Vinícius - Equivalente a 180 mil reais.
Vinícius foi atrás do paradeiro dos relógios e montou um dossiê em que o policial Rogerio Felipe aparece em fotos de redes sociais usando alguns deles.
Quando estava preso pelo homicídio, Vinícius falou sobre um sequestro que ele teria sofrido em janeiro de 2022. Ele teria sido levado por homens do PCC que queriam o tal pen drive onde o empresário teria os códigos sobre as criptomoedas. Esse caso passou a ser investigado pelo Deic, a delegacia estadual de investigações criminais. Mas não houve conclusão.
Promotor - O senhor mencionou alguma coisa do Deic? uma suposta corrupção do Deic?
Advogado de defesa - Isso, antes do sequestro também acho que é bom deixar assinado que o Vinícius por mais que tenha oferecido todas as informações com riqueza de detalhes todas as pessoas que estavam relacionadas ao sequestro dele, nenhum dessas pessoas foi ouvida. E o inquérito no sequestro foi arquivado”.
Promotor – Em relação ao Deic?
Vinícius - Em relação ao Deic, teve os meus celulares que foram resetados lá dentro. A ocorrência, a apreensão foi dia 11/2, com reset de fábrica 13/2, com laudo da própria Polícia Civil.
Promotor - Isso na busca do Deic.
Vinícius - E aí, depois a outra... Tinha outro celular. Outro reset, 22/3 de 2022.
O Fantástico teve acesso ao laudo da perícia de um dos celulares que diz q o aparelho voltou as configurações de fábrica no dia 13 , ou seja, todos os arquivos foram apagados.
Vinicius - O fato de terem devolvido o celular, eu achei que estavam me ajudando, mas não, era pro Deic apreender e fazer isso.
Os promotores suspeitam que agentes do Deic tenham deixado de cumprir decisões judiciais para impedir que fossem revelados nomes de pessoas que tinham usado o empresário para lavar dinheiro.
Vinicius - E teve o mandado de busca também, que eles negociaram pra não fazer, né? Pediram, foi concedido e não fizeram.
Promotor - Negociaram com quem?
Vinicius - Com o Cigarreira, com o Emilio.
Cigarreira é o apelido de Emilio Castilho, segundo as investigações ele é traficante e tem ligações com o PCC. De acordo com Vinícius participou do sequestro. O empresário afirma também que o criminoso tem ligações com agentes do Deic.
Uma das linhas de investigação da força-tarefa aponta Emilio Castilho, o Cigarreira, como possível mandante da execução.
Além desse vídeo, com a delação de Vinicius, que o Fantástico teve acesso, ainda há outros três, que estão com os promotores de São Paulo.
A Secretaria de Segurança pública disse em nota que "Todos os policiais civis citados na delação foram afastados dos serviços operacionais. As forças de segurança do estado não compactuam com desvios de conduta de seus agentes e, ao final das apurações, todos serão responsabilizados nos termos da lei".
Já a defesa de Fábio Baena e Eduardo Monteiro disse que as declarações de Gritzbach "já foram objeto de ampla investigação conduzida pela corregedoria da polícia civil e, foi arquivada, a pedido do próprio ministério público".
O advogado Ivelson Salotto disse, por telefone, que não foi indicado pelo delegado Fabio Baena: “Na realidade eu conheci o Vinícius num final de ano de 2019, me foi apresentado por um cliente”.
E nega qualquer tipo de pagamento e cobrança de propina envolvendo Vinícius e os policiais. “Ele me conhece há muitos ano e sabe que eu tenho uma conduta que não admite esse questão de corrupção”, afirma Ivelson Salotto.
O Fantástico não encontrou as defesas de Emilio Castilho e não conseguimos contato com a defesa de Rogério Felipe.
Ouça os podcasts do Fantástico
ISSO É FANTÁSTICO
O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1, Globoplay, Deezer, Spotify, Google Podcasts, Apple Podcasts e Amazon Music trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.
PRAZER, RENATA
O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida.
BICHOS NA ESCUTA
O podcast 'Bichos Na Escuta' está disponível no g1, no Globoplay, no Deezer, no Spotify, no Google Podcasts, no Apple Podcasts, na Amazon Music ou no seu aplicativo favorito.FONTE: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/12/08/em-delacao-premiada-vinicius-gritzbach-entrega-nome-de-pessoas-ligadas-ao-pcc-e-acusa-policiais-de-corrupcao-veja-trechos.ghtml