EUA ainda tentam apreender terceiro petroleiro ligado à Venezuela
24/12/2025
(Foto: Reprodução) Reuters: EUA aguardam reforço para abordar petroleiro
O navio petroleiro ligado à Venezuela que foi cercado pela Guarda Costeira no último domingo (21) ainda não foi apreendido pelo governo norte-americano.
Nesta quarta-feira (24), a agência de notícias Reuters informou que a Guarda Costeira dos EUA ainda aguardava a chegada de forças adicionais para abordar e apreender o navio Bella 1.
Além disso, a agência Bloomberg, citando uma fonte próxima à operação, informou que o Bella 1 não estava carregado de petróleo e navegou de volta ao oceano Atlântico.
O petroleiro não deve retornar à Venezuela.
Segundo a Bloomberg, o petroleiro sancionado foi abordado inicialmente próximo a Barbados, no mar do Caribe.
Devido às más condições do tempo, foi orientado a seguir para águas mais calmas para ser apreendido. Um oficial dos EUA disse que "a Guarda Costeira não desistiu de apreender o petroleiro e que existe uma ordem judicial de apreensão para ele".
Um funcionário dos EUA, falando sob condição de anonimato à Reuters, disse que os agentes da Guarda Costeira no porta-aviões Gerald Ford eram de uma Equipe de Resposta de Segurança Marítima e que, naquele momento, estavam longe demais do Bella 1 para realizar uma operação de abordagem.
A perseguição ao Bella 1 mostra o "descompasso entre o desejo do governo Trump de apreender petroleiros sancionados nas proximidades da Venezuela e os recursos limitados da agência que conduz principalmente as operações, a Guarda Costeira", diz a Reuters.
Nas últimas semanas, a Guarda Costeira apreendeu dois petroleiros perto da Venezuela, aumentando a pressão do governo Trump sobre Nicolás Maduro.
Na quarta-feira (24), a Reuters também informou que a Casa Branca ordenou que as forças militares dos EUA se concentrem quase exclusivamente em deixar a Venezuela em estado de "quarentena".
A autoridade, falando sob condição de anonimato, disse que a ordem da Casa Branca foi para que as forças dos EUA se concentrassem quase exclusivamente “na quarentena do petróleo venezuelano por pelo menos os próximos dois meses”.
Por que os navios estão sendo apreendidos?
A Venezuela concentra a maior reserva comprovada de petróleo do planeta, com capacidade de aproximadamente 303 bilhões de barris — ou 17% do volume conhecido —, segundo a Energy Information Administration (EIA), órgão oficial de estatísticas energéticas dos EUA.
🔎 Na prática, o potencial é enorme, mas segue subaproveitado devido à infraestrutura precária e às sanções internacionais que limitam operações e acesso a capital.
Esse volume coloca o país à frente de gigantes como Arábia Saudita (267 bilhões) e Irã (209 bilhões), com ampla margem. Grande parte do petróleo venezuelano, porém, é extra-pesado, o que exige tecnologia sofisticada e investimentos elevados para extração.
Há um claro interesse dos EUA. Segundo a EIA, o petróleo pesado da Venezuela "é bem adequado às refinarias norte-americanas, especialmente às localizadas ao longo da Costa do Golfo".
Nesse contexto, o republicano atinge dois objetivos simultaneamente: ao buscar favorecer a economia dos EUA, também pressiona a produção e as exportações de petróleo da Venezuela — setor central para a economia do país e para a sustentação do governo de Nicolás Maduro.
Os efeitos iniciais já começaram a aparecer na última semana. Reportagem da Bloomberg News indicou que Caracas enfrenta falta de capacidade para armazenar petróleo, em meio a medidas de Washington para impedir que embarcações atraquem ou deixem portos venezuelanos.
Desde que os Estados Unidos impuseram sanções ao setor de energia da Venezuela, em 2019, comerciantes e refinarias que compram petróleo venezuelano passaram a recorrer a uma “frota fantasma” de navios-tanque, que ocultam sua localização, e a embarcações sancionadas por transportar petróleo do Irã ou da Rússia.
A China é a maior compradora do petróleo bruto venezuelano, que responde por cerca de 4% de suas importações. Em dezembro, os embarques devem alcançar uma média de mais de 600 mil barris por dia, segundo analistas consultados pela Reuters.
Por enquanto, o mercado de petróleo está bem abastecido, e há milhões de barris em navios-tanque ao largo da costa da China aguardando para serem descarregados.
Se o embargo permanecer em vigor por algum tempo, a perda de quase um milhão de barris por dia na oferta de petróleo bruto tende a pressionar os preços do petróleo para cima.
O ataque a petroleiros ocorre enquanto Trump ordenou ao Departamento de Defesa que realizasse uma série de ataques contra embarcações no Caribe e no Oceano Pacífico que sua administração alega estarem contrabandeando fentanil e outras drogas ilegais para os Estados Unidos e além.
Pelo menos 104 pessoas foram mortas em 28 ataques conhecidos desde o início de setembro.
A chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, disse em uma entrevista à Vanity Fair que Trump "quer continuar explodindo barcos até Maduro gritar 'tio'."
Veja quais foram os navios interceptados.
Arte/g1 - Bruna Azevedo