Ex-presidente da França Nicolas Sarkozy chega à prisão em Paris
21/10/2025
(Foto: Reprodução) Ex-presidente francês Nicolas Sarkozy deixa sua casa em direção à prisão
O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy chegou à prisão, nesta terça-feira (21), para cumprir pena de cinco anos por conspiração para arrecadar fundos de campanha da Líbia. Por volta das 4h15, no horário de Brasília -- 9h15, no horário local -- ele deixou sua casa a caminho da prisão de La Santé, em Paris.
O advogado de Sarkozy afirmou que o pedido de liberdade foi apresentado e que o ex-presidente escreverá sobre seu tempo na prisão.
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Ex-presidente francês Nicolas Sarkozy vai para a prisão para começar a cumprir pena de cinco anos
Sarah Meyssonnier/Reuters
Sarkozy, que foi presidente conservador da França entre 2007 e 2012, se tornará o primeiro ex-líder francês a ser preso desde o colaborador nazista Marechal Philippe Pétain, após a Segunda Guerra Mundial.
“Não tenho medo da prisão. Vou manter minha cabeça erguida, inclusive nos portões da prisão”, disse Sarkozy ao jornal La Tribune Dimanche antes de sua prisão.
Durante seu deslocamento, o ex-presidente divulgou um comunicado na rede social X dizendo ser inocente.
Quero lhes dizer, com a força inabalável que é a minha, que não é um ex-presidente da República que está sendo preso esta manhã — é um inocente, diz o pronunciamento.
Continuarei a denunciar este escândalo judiciário, esta via-crúcis que sofro há mais de dez anos. Eis, portanto, um caso de financiamento ilegal sem o menor financiamento. Uma investigação judicial de longo prazo iniciada com base em um documento cuja falsidade agora está comprovada
Sebastien Cauwel, chefe do sistema prisional do país, incluindo a prisão de alta segurança La Santé, onde Sarkozy será encarcerado, afirmou que o ex-presidente ficará em isolamento.
“Ele poderá acessar o pátio de exercícios sozinho, duas vezes ao dia, terá acesso a uma sala de atividades sozinho e ficará sozinho em sua cela”, disse Cauwel à rádio RTL
Pessoas seguram um cartaz com o retrato de Nicolas Sarkozy e o slogan “França Forte” durante um ato convocado pelos filhos do ex-presidente, em apoio ao pai.
Benoit Tessier/Reuters
Acesso a TV, telefone fixo e Chuveiro privado
A condenação encerra anos de batalhas legais sobre alegações de que sua campanha de 2007 recebeu milhões em dinheiro do líder líbio Muammar Gaddafi, que foi posteriormente deposto e morto durante as revoltas da Primavera Árabe.
Embora Sarkozy tenha sido considerado culpado de conspirar com assessores próximos para organizar o esquema, ele foi absolvido de receber ou usar pessoalmente os fundos.
Ele sempre negou irregularidades e classificou o caso como politicamente motivado, afirmando que os juízes buscavam humilhá-lo. Ele recorreu da decisão, mas a natureza da sentença exige que ele vá para a prisão enquanto o recurso é analisado.
O ex-presidente já havia sido condenado em outro caso de corrupção, no qual foi considerado culpado de tentar obter informações confidenciais de um juiz em troca de favores de carreira, cumprindo a pena com uma tornozeleira eletrônica.
A unidade de isolamento de Sarkozy na prisão La Santé, em Paris — que já abrigou o militante de esquerda Carlos, o Chacal, e o líder panamenho Manuel Noriega — mantém os presos em celas individuais e separados durante atividades ao ar livre por razões de segurança.
As condições são similares ao restante da prisão: as celas medem de 9 a 12 metros quadrados e, após reformas, agora incluem chuveiros privativos.
Sarkozy terá acesso a uma televisão — mediante taxa mensal de 14 euros — e a um telefone fixo.
O Conde de Monte Cristo na lista de leitura
O advogado de Sarkozy, Jean-Michel Darrois, disse à rádio Franceinfo que o ex-presidente estava se preparando para a prisão levando suéteres e protetores auriculares.
“Ele preparou algumas malas com suéteres, pois a prisão pode ser fria, e protetores auriculares, porque pode haver muito barulho”, disse Darrois.
Sarkozy também contou ao jornal Le Figaro que levaria três livros para sua primeira semana na prisão, incluindo O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas — a história de um homem injustamente preso que trama vingança contra aqueles que o traíram.
A decisão de prender um ex-presidente provocou indignação entre aliados políticos de Sarkozy e a extrema-direita.
No entanto, a decisão reflete uma mudança na abordagem da França em relação a crimes de colarinho branco, após reformas introduzidas por um governo socialista anterior. Nas décadas de 1990 e 2000, muitos políticos condenados evitavam a prisão.
Para combater a percepção de impunidade, juízes franceses estão cada vez mais emitindo ordens de “execução provisória” — exigindo que as sentenças comecem imediatamente, mesmo enquanto os recursos estão pendentes, segundo especialistas e políticos ouvidos pela Reuters.
A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, foi proibida de concorrer a cargos sob a mesma provisão de “execução provisória”, aguardando recurso no início do próximo ano.
De acordo com uma pesquisa da Elabe de 1º de outubro para a BFM TV, 58% dos franceses acreditam que o veredicto foi imparcial, e 61% apoiam a decisão de enviar Sarkozy à prisão sem esperar o recurso.
O presidente Emmanuel Macron, que manteve boas relações com Sarkozy e sua esposa Carla Bruni, disse na segunda-feira que se encontrou com Sarkozy antes da prisão. O ministro da Justiça, Gérald Darmanin, próximo a Sarkozy, afirmou à rádio France Inter que visitaria o ex-presidente.