Lenda popular, mistério e memórias: a história por trás do túmulo número 1 do Cemitério da Saudade em Bauru

  • 03/08/2025
(Foto: Reprodução)
Entrada do Cemitério da Saudade um dos mais antigos em funcionamento em Bauru São Paulo State Film Commission/Divulgação O Cemitério da Saudade, inaugurado em julho de 1908 em Bauru (SP), é um patrimônio histórico da cidade, sendo o mais antigo ainda em funcionamento e um marco de desenvolvimento da cidade para sua época. Com 5 mil metros quadrados e túmulos com nomes de rua, como Azarias Leite e Araújo Leite, o cemitério pode não ter sido o primeiro da cidade, mas possivelmente foi o primeiro com a estrutura cemiterial que conhecemos nos dias atuais. É o que diz Fabiana Rocha, gerente de Museus e Pesquisa Histórica em Bauru. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp "Na verdade, nessa questão de ser o primeiro cemitério da cidade, pode ser que ele tenha sido o primeiro com essa estrutura cemiterial que a gente conhece hoje. Mas, claramente, nós tivemos cemitérios indígenas, com um outro contexto cultural, não nesse formato de cemitério que a gente conhece hoje, e outros cemitérios populares também que existiam em Bauru e região. Ele talvez tenha sido um dos primeiros com essa estrutura cemiterial que a gente conhece hoje, e é o que está em funcionamento." Historiadores ainda divergem sobre ser ou não o primeiro inaugurado, mas o fato é que sua história chama atenção dos moradores há anos. Localizado na Rua Hermínio Pinto, o cemitério teve seu terreno doado pelo empresário hoteleiro da época João Henrique Dix. Inclusive, dizem que ele cometeu suicídio para ser sepultado no túmulo nº 1 do cemitério. A morte do empresário Jornais da época noticiaram a morte do empresário em Bauru Edson Fernandes Em reportagem datada de 1995, o famoso historiador bauruense Gabriel Pelegrina afirma que João Henrique tinha a intenção de doar o terreno e ser o túmulo nº 1: "Ele deixou uma carta explicando que se matou porque queria ser o primeiro a ser enterrado ali". Ao longo dos anos, o assunto virou quase uma lenda popular em Bauru. O fato é: o empresário doou o terreno à cidade de Bauru para a construção ou ampliação do famoso local e, segundo um jornal da época, cometeu suicídio em um período próximo à finalização das obras do cemitério. Mas não existem documentos que comprovem sua verdadeira intenção. O g1 conversou com o professor Edson Fernandes, historiador de Bauru, sobre essa antiga história. Ele confirmou que Dix possui o túmulo número 1 no cemitério, porém vê como exagerada a lenda de seu suicídio apenas por conta disso. "O Dix, de fato, é o número um, e ele, de fato, se matou. Agora, acreditar que ele se matou para ser o número um, eu acho meio exagerado, porque ele era uma pessoa tão conceituada pela sociedade. Ele era casado e tinha cinco filhos menores. Penso que o motivo seria outro, existem especulações quanto à infidelidade de sua esposa, mas nenhum documento oficial comprova sua intenção." Fabiana Rocha segue a mesma linha do professor Edson - muitas hipóteses, porém pouca documentação, o que dá espaço para a criação de teorias. "Nós não encontramos nenhum documento ou qualquer tipo de embasamento que indique que ele realmente se suicidou para ser o primeiro a ser enterrado ali. Temos alguns boatos, algumas lendas urbanas. Então, a gente sempre vai trabalhar com as várias hipóteses. As pessoas vão passando de umas para as outras. E, aí, pode funcionar como um 'telefone sem fio'. Aquela brincadeira de criança, que você começa falando 'maçã' e a última criança entende 'banana'. Então, a gente tem a história de que ele se matou para ser o primeiro a ser enterrado. A gente tem a história de que houve um crime passional envolvendo uma mulher. Tem outra história também de que ele foi assassinado também por um outro crime passional. Então, são hipóteses. A gente não sabe realmente qual é a verdade dentro disso." O cemitério era menor? Cemitério da Saudade em Bauru São Paulo State Film Commission/Divulgação O professor Edson trouxe também outra questão - o tamanho inicial do terreno do Cemitério da Saudade originalmente era menor, sendo possível ver no local marcas dessa ampliação, porém sem documentação referente a esse primeiro e original terreno. Segundo ele, a entrada original do cemitério era em sua lateral, local próximo onde João Henrique está enterrado, distante da atual rua principal (hoje tombada pela prefeitura), local onde teria sido feita a ampliação. "O terreno original era muito pequeno, ele foi sendo ampliado. Inclusive, no terreno original, ainda há marcas visíveis, mas não há documentação referente ao primeiro terreno. Então, pode ter sido o primeiro terreno para ampliação ou pode ter ido para o salto de ampliação. Porque, olha, a entrada do cemitério não era a da Rodrigues Alves, porque ele não chegava lá, e, sim, pela rua lateral. O túmulo dele [Dix] não está na rua principal. A rua principal, por exemplo, possui outras figuras da cidade, mas que morreram depois dele." Registro de corpos enterrados no Cemitério da Saúde Edson Fernandes Outro ponto de dúvida é o registro da época que mostra que Dix foi o primeiro enterrado. Isso porque o túmulo número 2 surgiu apenas dois anos depois e, a partir dele, um seguido do outro no mesmo período, levantando a hipótese de que o cemitério não estaria pronto e que as pessoas estariam sendo enterradas em outros lugares. "Talvez o cemitério ainda não estivesse acabado. Ou ele foi sepultado no cemitério velho, que a gente tem documentação disso, e, quando foi aberto o novo, o túmulo foi transferido para lá. Está documentado que, em 1911, eles foram removidos do cemitério velho, entendeu? Então, fica essa dúvida." Número 1 ou infidelidade? O que motivou sua morte? Túmulo número 1 do cemitério, onde está enterrado o empresário João Henrique Dix Priscila Medeiros Edson Fernandes ainda conta uma curiosidade - a ex-esposa do empresário se casou anos depois de seu falecimento com um funcionário do seu hotel e, segundo ele, na carta citada por Gabriel Pelegrina, Dix teria deixado apenas questões de negócios. "Seria infidelidade? O que eu posso te dizer? Ele tinha um hotel. Então, ele era uma pessoa concentrada. Quatro anos depois, a mulher dele casou com o funcionário do hotel. Ele deixou uma carta para duas pessoas, inclusive um deles é o Jair São Franco, por causa dos negócios, entendeu? Para acertar a questão burocrática, a questão dos negócios." Outras teorias O g1 consultou a Secretaria de Cultura de Bauru, em especial a Divisão de Museus, que enviou um texto no qual cita que, na verdade, João Henrique Dix doou as terras da expansão do cemitério e, não, a sua totalidade. Sobre sua morte, citou que alguns afirmam que serviu de inspiração para o livro "O Bem Amado", de Dias Gomes. E trouxe mais uma linha do que pode ter acontecido: um possível assassinato por um amante de sua esposa. "Registrado como túmulo nº 1 do Cemitério da Saudade. Pertencente a João Henrique Dix. O empresário possuía um hotel na esquina da Araújo Leite com a Marcondes Salgado, e foi o doador das terras para expansão do cemitério. Há controvérsias em relação à causa da sua morte. A lenda diz que Dix se matou para inaugurar o cemitério, alguns dizem que se enforcou, outros dizem que com um tiro no peito. Alguns afirmam que a história é real e foi a inspiração para Dias Gomes escrever 'O Bem Amado'. Outra versão da história diz que ele foi morto por um amante de sua esposa durante uma discussão, uns dizem que o amante seria um funcionário do hotel com quem sua esposa se casou depois de sua morte, que o amante seria um político que depois saiu fugido da cidade. Mas o túmulo por ser considerado o primeiro foi alvo de processo de tombamento em decreto direto do prefeito, em 1993." Museu a céu aberto Túmulos fazem parte da chamada arte cemiterial São Paulo State Film Commission/Divulgação Independentemente da forma como as coisas aconteceram no longínquo ano de 1908, o Cemitério da Saudade permanece como o mais antigo em funcionamento na cidade. Datado do século passado, possui personalidades sepultadas e se mantém como um passeio pela história de Bauru. É o convite que faz a gerente de Museus e Pesquisa Histórica em Bauru, Fabiana Rocha, para quem quer sair de casa e se aprofundar nesse museu a céu aberto. "É interessante fazer uma visita para ver os túmulos e conhecer um pouquinho mais sobre a história dessas personalidades. E também há outra vertente, que é a vertente artística. Você visitar um cemitério para conhecer um pouco mais sobre a arte cemiterial. Alguns túmulos são assinados por artistas importantes de Bauru e região. Então, ele tem essas duas vertentes. Tanto um documento histórico, um museu a céu aberto, quanto um espaço de arte também devido à arte cemiterial. Então, ele tem esses dois pesos de grande relevância e importância para o município de Bauru." Confira outros destaques do g1: g1 em 1 minuto: entenda por que pedra retirada da vesícula do boi vale até R$ 300 mil 'Ouro bovino': entenda por que pedra retirada da vesícula do boi vale até R$ 300 mil o quilo Eny Cezarino: quem foi a dona do maior bordel do Brasil e como está a mansão hoje Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília VÍDEOS: assista às reportagens da região

FONTE: https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2025/08/03/lenda-popular-misterio-e-memorias-a-historia-por-tras-do-tumulo-numero-1-do-cemiterio-da-saudade-em-bauru.ghtml


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