Presença de facções cresce e chega a quase metade das cidades da Amazônia; VEJA MAPA
19/11/2025
(Foto: Reprodução) Presença de facções cresce e chega a 45% das cidades da Amazônia
A presença de facções criminosas cresceu e chegou a 45% dos municípios que compõem a Amazônia Legal, indica pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
São 772 cidades na região, das quais 344 apresentaram alguma evidência da presença de facções, conforme o levantamento. O aumento é de 32,3% em relação ao ano passado, quando o Fórum identificava 260 cidades com facções. Veja no mapa abaixo.
🔎 Nove estados compõe a Amazônia Legal Brasileira: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
O aumento da presença de facções na região é de 93% em comparação a 2023, quando o número era de 178 municípios (23% do total).
Para o FBSP, o crescimento está diretamente ligado ao controle das rotas de tráfico de drogas na região, como no Alto Solimões. Crimes locais, entre eles o garimpo ilegal, também contribuíram para a expansão dos grupos criminosos (leia mais abaixo).
Está é a 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, que conta com parceria do Instituto Clima e Sociedade, do Instituto Itausa, do Instituto Mãe Crioula e do Laboratório Interpretativo Laiv.
Quantas e quais são as facções
Presença do CV no Amazonas
Divulgação
São 17 grupos diferentes identificados pelos pesquisadores, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de grupos locais e até internacionais, como o Tren de Araguá, da Venezuela, e a ex-Farc, da Colômbia.
Segundo o estudo, o CV tem influência em 83% do total de cidades com presença de facções, chegando a 286 cidades -- seja de forma hegemônica ou em disputa com outros grupos criminosos. Veja no mapa abaixo.
Originário do Rio de Janeiro, o CV domina o crime organizado em 202 cidades, enquanto disputa a hegemonia com rivais em outros 84, de acordo com dados do Fórum. Houve crescimento de 123% de sua presença na Amazônia desde 2023, quando estava em 128 cidades.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) está em 90 municípios, com controle da criminalidade em 31 e disputando o domínio em outros 59. A facção teve leve oscilação na presença registrada há dois anos, quando aparecia em 93 cidades.
As 17 facções identificadas na Amazônia:
Comando Vermelho (CV);
Primeiro Comando da Capital (PCC);
Amigos do Estado (ADE);
Bonde dos 40 (B40);
Primeiro Comando do Maranhão (PCM);
Famílai Terror do Amapá (FTA);
União Criminosa do Amapá (UCA);
Comando Classe A (CCA);
Bonde dos 13 (B13);
Bonde dos 777 (dissidência do CV);
Tropa do Castelar;
Piratas do Solimões;
Bonde do Maluco (BDM);
Guardiões do Estado (GDE);
Tren de Araguá (Venezuela);
Estado Maior Central (ECM, da Colômbia);
Ex-Farc Acácio Medina (Colômbia).
Rota do tráfico e modo de atuação favoreceu o CV, indica pesquisador
Segundo David Marques, gerente de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a presença maior do Comando Vermelho na região é justificada pela descentralização, enquanto o PCC, por exemplo, centraliza as decisões em seus chefes de São Paulo.
"A lógica de funcionamento do Comando Vermelho é como se tivéssemos a criação de franquias associadas ao grupo [nos estados]", afirma.
Ainda de acordo com Marques, o grupo criminoso do Rio tem necessidade de atuar na Amazônia e escoar drogas pela região, já que o PCC controla a chamada "rota caipira" do tráfico, com corredores que escoam substâncias vindas das fronteiras pelo Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná até serem exportados por portos rumo à Europa e África.
"O PCC, nesses outros territórios, está muito mais interessado em fazer parcerias com organizações locais e nos fluxos mais macro, do atacado do tráfico. Enquanto o Comando Vermelho tem o interesse pelo atacado também e, para isso, é muito importante o controle territorial", afirma.
Presença das facções nos estados
A presença nos estados varia conforme a localidade: quanto mais próximo da fronteira com outros países da América do Sul, mais forte a presença.
O Acre, que faz divisa com Peru e Bolívia, tem presença em 100% dos seus 22 municípios. Já o Tocantins, no outro lado, na divisa com o Nordeste, tem 12% das 139 cidades com registro de grupos criminosos. Veja baixo:
Acre: 22 de 22 municípios (100%);
Amapá: 10 de 16 (62,5%);
Amazonas: 25 de 62 (40%);
Maranhão (parte amazônica): 53 de 181 (29%);
Mato Grosso: 92 de 141 (65%);
Pará: 91 de 144 (63%);
Rondônia: 21 de 52 (40%);
Roraima: 13 de 15 (80%);
Tocantins: 17 de 139 (12%).
Infográfico - Comando Vermelho (CV) busca dominar rotas do tráfico na Amazônia pelo Rio Solimões
Arte g1
Outros dados do estudo sobre violência na Amazônia Legal:
Mortes violentas na Amazônia Legal caem para 8.047 em 2024, mas seguem 31% acima da média nacional;
Maranhão é único estado da Amazônia Legal a ter alta na taxa de homicídio em 2024, com crescimento de 11%; Amapá lidera ranking de violência;
Pará e Maranhão lideram conflitos no campo na Amazônia Legal; 2024 teve recorde de 1.317 casos, aumento de 20% em relação a 2023;
Feminicídios são 19% maior na região amazônica do que a média nacional;
Estupro sobem na Amazônia, com 13 mil registros: quase 80% das vítimas têm 14 anos ou menos;
Facções criminosas estão criando regras comportamentais para mulheres, que chegam até necessidade de autorização para terminarem relacionamentos;
Municípios sem polícia viram zonas dominadas por facções na Amazônia Legal;
Apreensão de drogas subiu 21% em 2024 na Amazônia Legal;
A Polícia Federal apreendeu 118 toneladas de cocaína na Amazônia entre 2019 e 2024: o aumento foi 84,8% no período.